Moisés
Almeida[i]
Ao abrir as redes sociais hoje me
deparei com várias postagens sobre o final da novela Avenida Brasil. Soube que
o Brasil “parou” para ver o desenlace da trama. Ao observar tantos “posts”, me lembrei
da aula ministrada no curso de Direto sobre Ética e Valores, quando utilizamos o
livro de Nelson Saldanha “Ética e História” para tratarmos da ética na
contemporaneidade. A reflexão desses escritos nos alertava para a força que tem
os “mass média” hodiernamente: “O
tremendo domínio dos meios de comunicação sobre os homens constitui hoje, como se sabe, uma presença ambivalente. Presta informações que abrangem
o planeta inteiro, e poderia com isto ter enorme utilidade pedagógica; mas por
outro lado — e, sobretudo, em função de interesses econômicos —, entroniza a vulgaridade e manipula o público oferecendo-lhe valores distorcidos.”
(SALDANHA, 2007, p. 21). Valores distorcidos? Somos manipulados? Vulgaridade na
TV? Será que um dos capítulos da novela feriu a moral familiar? Estou apenas
perguntando e não afirmando. “A ‘moral familiar’ dos últimos
séculos, vista como hipócrita por seus críticos — e com alguma razão —, vai
sendo trocada por uma mistura de permissividade e pragmatismo. (SALDANHA,
2007, p. 22). Permissividade? Estamos num tempo em que se permite tudo? Alguém,
que eu nem sei quem foi o personagem, - pois, por ironia do destino assisti
apenas os dois últimos capítulos da trama final
- casou-se com três mulheres. De alguma forma esse ato da vida irreal
abalou a moral familiar conservadora brasileira? Vida irreal? É apenas trama,
drama ou desejo de parte dos homens brasileiros? Pontos para nossa reflexão.
Repito, estou apenas perguntando. A Filosofia nos ensina a perguntar. Aprendi
com Platão que dizia que Sócrates era o perguntador implacável, porque nada
sabia: “só sei que nada sei”.
Em nossas
reflexões na aula de Filosofia e Ética constamos que os meios de comunicação têm
pautado a ordem do dia. No trabalho, em casa, no lazer, não se fala em outra
coisa, senão no que dita a poderosa telinha. Sentamos nos bares da vida para
falar da ficção de outrem. “A ciência, a política, a arte tentam substituir a
religião e embasar a ética — ou pôr-se em seu lugar. Mas o que vem realmente
pondo-se no lugar da ética são os ‘meios de comunicação’". (SALDANHA,
2007, p. 27).
Quanto às
instituições que foram postas em “descenso”, família, religião, escola resta-os
concorrer deslealmente com o que determina o poder do capital/consumo veiculado
nos “outdoors” da vida, através do touch screen dos celulares, dos monitores de
computador e principalmente dos LEDs da TV. No facebook dos dias 19 (noite) e 20
não se falava em outra coisa, senão no final da novela que rendeu aos cofres da
“Vênus Platinada”, segundo informação da revista “Forbes” dois bilhões de
reais, pagos por anúncios publicitários que valiam até US$ 400 mil por uma
aparição de 30 segundos. “Tal
como para Marx a alienação assentava, sobretudo na ‘estúpida compulsão do
trabalho’, talvez a nossa assente, mais do que em qualquer inculcação
ideológica, ‘na estúpida compulsão do consumo’. Aliás, as duas compulsões estão
hoje mais interpenetradas do que nunca. Dantes, o operário procurava que o seu
tempo livre fosse o contrário do trabalho. Hoje, o tempo livre é cada vez mais
semelhante ao tempo de trabalho. E não me refiro apenas ao tempo homogêneo e
abstrato que, tal como o do trabalho, domina o turismo organizado. Refiro-me ao
tempo do quotidiano, ao jogging, ao exercício físico, à maquilhagem, à
aparência física cada vez mais importantes como forças produtivas do
trabalhador, sobretudo do trabalhador de serviços, que vende tanto o trabalho
da aparência física como qualquer outro que tem de fazer. (SANTOS, 1995, p.
110). Os anúncios da novela venderam, sobretudo, aparência.
E a novela da vida real continua, nas avenidas de cada rua desse imenso
Brasil, seduzido pelo poder da “mediação” que nos é oferecida todos os dias,
pois vale a pena mesmo viver o irreal e ética da consciência normativa que
fique pra depois. Para que reformar pensamentos e intenções?
Só me resta mesmo a saudade do meu Brasil "terra boa e gostosa, da morena sestrosa, de olhar indiferente. Brasil, samba que dá para o mundo se admirar. O Brasil do meu amor, terra de Nosso Senhor. Abre a cortina do passado e tira a mãe preta do cerrado, bota o rei congo no congado e canta de novo o trovador. Saudade do meu Brasil... brasileiro".