Já tem saci até na Suécia
Pesquisador da obra de Monteiro Lobato conta como o famoso personagem perneta se tornou um poderoso símbolo nacional e ícone da luta contra o imperialismo cultural
“Eu descobri até um saci no exílio. Olha aqui: na Suécia!”, afirma Vladimir Sacchetta, mostrando o cartaz de um evento organizado na cidade de Lund por brasileiros exilados na época da ditadura. O “causo”, que à primeira vista pode parecer uma simples anedota divertida, diz muito sobre o mais famoso personagem da mitologia brasileira que o escritor Monteiro Lobato registrou na primeira metade do século XX. Indignado com a cegueira das elites do país, que teimavam em valorizar a cultura europeia e desprezar as tradições populares brasileiras, Lobato decidiu, a partir de 1917, transformar em literatura escrita os contos e lendas que havia séculos circulavam de boca em boca pelos engenhos e fazendas do interior. Ao valorizar os mitos nacionais, Lobato queria promover o nosso “7 de Setembro estético” e colocar a cultura nacional no mesmo patamar das mais sofisticadas do mundo.
Foi com esse mesmo espírito que, mais de 80 anos depois, Vladimir Sacchetta e outros admiradores da obra de Lobato fundaram a Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci) em 2003. Como o próprio pesquisador conta, a iniciativa foi uma retomada da antiga luta do escritor paulista. O inimigo, no entanto, agora é outro: se no tempo de Lobato o saci se opunha aos duendes alemães que enfeitavam o Jardim da Luz, em São Paulo, agora o famoso perneta disputa espaço com a bruxa do Halloween, e uma das grandes reivindicações da Sosaci é que no Brasil o dia 31 de outubro seja o Dia do Saci, e não o Dia das Bruxas. A medida já foi adotada no estado e na cidade de São Paulo, além de vários municípios do país, mas não em âmbito nacional.
Enquanto isso não acontece, Sacchetta continua observando e cultivando seus sacis. Coautor de Monteiro Lobato – Furacão na Botocúndia, uma das mais importantes biografias do escritor, o pesquisador recebeu a reportagem de História Viva em seu escritório em São Paulo e contou como o saci se tornou um dos mais poderosos símbolos da cultura nacional. |
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