sábado, 31 de março de 2012

Historiadores pra quê?

À luz do debate que sacode o campo de história estadunidense sobre a função social dos historiadores, Keila Grinberg contrapõe, em sua coluna de março, as expectativas do graduando em história no Brasil e a realidade que ele encontra depois de formado. A reflexão sugere um novo direcionamento profissional nos cursos de pós-graduação na área.

Por: Keila Grinberg

Prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, no qual se encontra o departamento de história da universidade. No Brasil, as graduações e as pós na área não estimulam uma formação voltada para a educação e a sociedade. (foto: Wikimapa).

Pergunte a qualquer estudante de pós-graduação em história no Brasil o que ele quer ser quando defender, e a resposta vai ser quase sempre a mesma: professor universitário. Nos Estados Unidos também é assim. Mas a realidade dos doutores recém-formados tem sido bem diferente da expectativa. Com a crise econômica, a maioria, quando acha emprego, acaba trabalhando em museus, escolas e outros lugares tidos como de menor prestígio.

A redução de vagas no mercado de trabalho universitário para a área de humanidades – o que, aliás, acontece nos Estados Unidos desde a década de 1970 – é a provável razão por trás da grande discussão sobre os programas de pós-graduação em história e a função social dos historiadores que está sacudindo o campo desde outubro do ano passado naquele país. Ainda que a motivação seja mesmo esta, ela está vindo para o bem.

Em outubro de 2011, Anthony Grafton, presidente da Associação Americana de História, e Jim Grossman, diretor-executivo da entidade, escreveram o artigo “No more plan B” (Não mais plano B, em tradução livre), defendendo que as chamadas carreiras alternativas, principalmente no campo do ensino e da história pública, não deveriam ser mais o plano B dos recém-doutores na área de história, mas sim o caminho principal. E isto não apenas porque falta vaga no mercado, mas porque os historiadores devem rever a sua relação com a sociedade, deixando de ver a si mesmos apenas como profissionais que pesquisam e ensinam dentro da universidade.

Departamento de história da Universidade de Boston (EUA)
Departamento de história da Universidade de Boston, nos Estados Unidos. O país passa por um amplo debate sobre os seus cursos universitários de história. Para alguns pesquisadores, historiadores deveriam trabalhar em parceria e envolver maos o público. (foto: reprodução)

O artigo caiu como uma bomba no meio acadêmico. Houve quem criticasse, dizendo que Grafton só defendia essas ideias por ser, ele próprio, professor de Princeton, uma das universidades de pesquisa mais prestigiadas dos Estados Unidos. Mas prefiro entrar na fila dos que aplaudiram, como Claire Potter e Thomas Bender, ambos professores da Universidade de Nova Iorque.

De maneiras diferentes, os dois defendem uma mudança radical no ensino universitário de história: Bender, para recuperar o comprometimento dos intelectuais com a vida pública que marcou a formação universitária na área de humanidades no século 19; e Potter, para defender que o trabalho do historiador no século 21 deve ser feito em conjunto e acessível ao grande público, um modelo radicalmente diferente daquele do pesquisador solitário, em vigor no século passado, que escreve somente para seus pares.

Para dar conta das novas tecnologias e para estar em dia com a produção acadêmica internacional, o historiador deve trabalhar em conjunto

Segundo Potter, os historiadores, para dar conta das novas tecnologias, das variadas formas de divulgação dos resultados de suas pesquisas, e para estar em dia com a produção acadêmica internacional, deve trabalhar em conjunto com outros historiadores. E isto vale também para o ensino e para um diálogo mais igualitário e engajado com o público (que, nas universidades do Brasil, poderíamos chamar de extensão).

Nisto não há muita novidade, a não ser a constatação, comum a ambos, de que o ensino universitário de história está muito longe de prover as competências necessárias para que os recém-formados possam se adequar aos novos tempos do mundo real. As disciplinas existentes na maioria dos cursos de pós-graduação em história são orientadas tão somente para a especialização excessiva e para a pesquisa individual.

Perda total

No Brasil, estamos no mesmo barco. A diferença é que a Associação Americana de História acabou de se engajar em um grande projeto de reflexão sobre a profissão, que, nos próximos três anos, vai estudar e discutir os currículos de várias universidades dos Estados Unidos.

Enquanto isso, aqui, são pouquíssimos os cursos de graduação em história que têm disciplinas como “Patrimônio” ou “Relações internacionais” em seus currículos. Candidatos a historiadores pouco estagiam em museus ou em centros culturais. Mesmo a área de ensino de história na educação básica é frequentemente neglicenciada. O resultado disso é que a maioria dos graduados na área foge das salas de aula dos ensinos fundamental e médio e nenhum curso de pós-graduação se dedica a formar professores para a educação básica.

Sala de aula
No Brasil, a maioria dos graduados em história foge das salas de aula dos ensinos fundamental e médio e nenhum curso de pós-graduação na área se dedica a formar professores para a educação básica. (foto: Tiffany Szerpicki/ Sxc.hu)

Dos 63 cursos de mestrado e doutorado existentes na área de história no início de 2012 no Brasil, apenas dois são mestrados profissionais, um dos quais especializado em bens culturais e projetos sociais. Nenhum é devotado ao ensino de história.

Para se ter uma ideia do contraste com outras áreas, existem hoje 72 cursos de pós-graduação no Brasil dedicados exclusivamente ao ensino de ciências – física, química, biologia, ciências da terra – e matemática, entre mestrado profissional (39), mestrado acadêmico e doutorado.

Da mesma maneira, a produção acadêmica resultante de trabalhos realizados em conjunto é frequentemente desvalorizada. Por decisão dos próprios historiadores, os livros didáticos – realizados necessariamente em equipe – não são considerados pela Capes como produção intelectual qualificada, item de fundamental importância na avaliação dos programas de pós-graduação.

Dos 63 cursos de mestrado e doutorado em história no Brasil, nenhum é devotado ao ensino

O mesmo vale para textos escritos em parceria, principalmente se a coautoria for entre aluno e professor – há quem desconfie que ou o professor se aproveita do trabalho do aluno ou o aluno se aproveita do prestígio do professor para publicar – e para o conhecimento divulgado em outros meios que não a palavra escrita, como filmes e sites.

A flagrante competição entre os programas de pós-graduação – têm mais recursos e bolsas de estudos aqueles cujos professores têm produção acadêmica considerada mais qualificada – completa o quadro.

Daí não ser de espantar que a maioria dos pesquisadores da área de história só se dedique a escrever livros, artigos e capítulos para serem lidos por seus pares; que suas aulas sigam esse mesmo padrão; e que seus alunos tenham no horizonte apenas a restrita carreira acadêmica.

Seguindo esse padrão, perdemos todos: pesquisadores, professores e alunos; Perdem os programas de pós-graduação, viciados em produzir apenas o que é bem pontuado na avaliação da Capes; perdem os alunos universitários, que têm uma formação voltada para um trabalho que dificilmente exercerão e que deixam de ser qualificados em competências que fatalmente deverão desenvolver.

E perde o público, ávido por ler bons livros, ver bons filmes, frequentar bons museus e navegar em bons sites de história.

Keila Grinberg
Departamento de História
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Pós-doutoramento na Universidade de Michigan (bolsista da Capes)


Fonte: Ciência Hoje


segunda-feira, 26 de março de 2012

Viagem à Serra Talhada, Triunfo e São José do Belmonte




08 a 09 de junho de 2012
CULTURA E HISTÓRIA
Conheça o sítio histórico de Triunfo
Visite à fundação Cabras de Lampião
Visite ao Castelo da Pedra do Reino
Passeio de Teleférico
Visita ao Engenho São Pedro (Cachaça Triunfo)
Visita a cacimba de seu Néco e as Furnas dos Holandeses
Pôr do sol no Pico do Papagaio
Visita às Pedras do Reino
Ônibus com ar-condicionado, hospedagem com café da manhã, almoço e jantar; translados dos passeios em caminhonete e vans. Incluso passeios, entrada em museus, teleférico etc. Valor total da viagem: R$ 240,00 - em três pagamentos de R$ 80,00 - em 16 de abril, 16 de maio e 04 de junho. (40 vagas).

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES:
Prof. Moisés Almeida - almeidaupemoises@hotmail.com

sexta-feira, 23 de março de 2012

VAMOS PARA A ANPUH EM CARUARU – PE ?





SAÍDA DIA 22 DE JULHO (NOITE) E RETORNO NO DIA 29 (NOITE).

QUATRO PARCELAS DE R$ 65,00 - INCLUINDO HOSPEDAGEM EM CASA COLETIVA COM CAFÉ, JANTAR E TRANSPORTE.

Primeira parcela: 05/04 - segunda parcela: 07/05  terceira parcela: 05/06 – quarta parcela: 10/07

Importante:
a)          Não estão incluídos almoço e inscrição no evento.
b)         Site da Anpuh para inscrição: http://www.pe.anpuh.org/conteudo/view?ID_CONTEUDO=457
c)          A viagem inclue visitas ao complexo de roupas de Toritama e Recife.


- Apenas alunos licenciados/bacharéis/mestres/doutores podem participar dos SIMPÓSIOS TEMÁTICOS;
- Alunos que já tem pesquisas em andamento devem participam dos Painéis (Pôsteres).

PRÉ-INSCRIÇÃO COM O PROFESSOR MOISÉS ALMEIDA

SEMANA ACADÊMICA DE HISTÓRIA

O curso de História da Universidade de Pernambuco - Campus Petrolina promoverá, de 22 a 25 de maio a Semana Acadêmica de História,  que esse ano traz a temática 'Narrativas, Fontes e Abordagens'. O evento será composto de minicursos, simpósios temáticos, palestras, oficinas e mesas de discussão. Os interessados em apresentar trabalhos devem consultar o regulamento em www.revistahistorien.com ou procurar a comissão organizadora no pavilhão de História da UPE. As inscrições também podem ser efetuadas no site da revista ou no pavilhão.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Descoberto novo fóssil de hominídeo que conviveu com homem moderno


Foto: Art copyright by Peter Schouten

Hominídeo, que viveu há 14,5 mil anos na China, apresenta mistura de traços físicos arcaicos e modernos.


Fósseis encontrados em duas cavernas do sudoeste da China revelaram a existência de uma espécie de hominídeo até agora desconhecido. Os fósseis da Idade de Pedra apresentavam uma incomum mistura de traços físicos arcaicos e modernos, deixando uma nova pista sobre a evolução humana na Ásia.Datando entre 14,5 mil e 11,5 mil anos, os fósseis são de hominídeos que conviveram com seres humanos modernos (Homo sapiens) em uma época em que a agricultura estava em seu princípio na China, revelou uma equipe internacional de especialistas no estudo publicado no periódico PLoS One.

Até agora não haviam sido encontrados, no leste do continente asiático, fósseis humanos de menos de 100 mil anos que se diferenciassem fisicamente do Homo sapiens, o que levou os cientistas a pensarem que não havia na região outras espécies de homínideos, quando apareceram os primeiros homens modernos.

Com a nova descoberta, esta teoria está sendo posta em dúvida."Esses novos fósseis podem ser de uma espécie antes desconhecida que sobreviveu até o final da Idade do Gelo, há 11 mil anos", indicou Darren Curnoe da Universidade de Nova Gales do Sul, da Austrália, que liderou o estudo junto com Ji Xueping do Instituto de Arqueologia e Relíquias Culturais de Yunnan chinês.De acordo com Curnoe, a outra opção seria que os fósseis se tratassem de representantes de uma migração da África muito adiantada e desconhecida de homens modernos que, no entanto, não contribuíram geneticamente para o homem atual. A equipe de pesquisadores é cautelosa em classificar os fósseis por causa do mosaico de características incomuns que eles apresentam.

Os restos de três indivíduos foram encontrados em 1989 por arqueólogos chineses em Maludong (na tradução do chinês, Caverna dos Cervos Vermelhos) perto da cidade de Mengzi, na província de Yunnan, mas só começaram a ser estudados em 2008 por cientistas chineses e australianos.Um quarto esqueleto parcial apareceu em 1979 em uma caverna em Longlin, na região autônoma de Guangxi Zhuang, mas permaneceu no bloco de pedra onde foi descoberto até 2009, quando foi reconstruído.Os crânios e dentes dos esqueletos encontrados em Maludong e Longlin são muito similares entre si.

Os cientistas apelidaram esses homens de "povo dos cervos vermelhos", já que caçavam esses animais hoje extintos e os cozinhavam na caverna de Maludong."A descoberta do povo dos cervos vermelhos abre um novo capítulo na história da evolução humana - o asiático - e é uma história que só agora está começando a ser incluída", afirmou Curnoe.Embora a Ásia conte atualmente com mais da metade da população mundial, os cientistas ainda sabem pouco sobre como os humanos modernos evoluíram nessa localidade depois que seus ancestrais se fixaram na Eurásia há cerca de 70 mil anos.

Até o momento os estudos sobre as origens humanas se centraram principalmente na Europa e na África, devido em grande parte à ausência de fósseis na Ásia e ao desconhecimento da antiguidade dos poucos restos encontrados nessa zona.

FONTE: IG


Verdades para todos os gostos


O Festival É Tudo Verdade começa mais uma edição na semana que vem trazendo 80 títulos de 27 países. A mostra, que começa em quinta-feira (dia 22) e termina em 1º de abril (ironicamente, Dia da Mentira), chega simultaneamente ao Rio de Janeiro e a São Paulo e homenageia os cineastas Eduardo Coutinho e Andrés Di Tella. O rol de temas retratados inclui desde a tropicália, passando pela geração beatnik até a Primavera Árabe.
O argentino Di Tella ganha uma retrospectiva, participa de debates e lança seu novo filme “Golpes de Machado”. Eduardo Coutinho, autor, entre outros, de “Cabra marcado para morrer” – que está sendo restaurado pela Cinemateca Brasileira – também terá sua carreira revisitada. O festival conta ainda com a estreia mundial de 25 produções, além de curtas e longas que incluem títulos premiados em eventos como Sundance, Oscar e Amsterdã.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Galileu não foi o primeiro a dizer que a Terra gira em torno do Sol


por Olivier Tosseri


É comum atribuir ao italiano Galileu Galilei (1564-1642) a criação do heliocentrismo. Apesar de o astrônomo renascentista ter contribuído muito para a aceitação dessa teoria no meio científico, a ideia de que a Terra se move em torno do Sol já vinha se desenvolvendo desde a Antiguidade.

No século V a.C., o filósofo grego Filolau formulou pela primeira vez a hipótese de que nosso planeta não ocupava o centro do Universo. Para ele, a Terra girava em torno de um “fogo central”, cuja luz era somente refletida pelo Sol. Posteriormente, no século V d.C., astrônomos indianos elaboraram teorias sugerindo que o globo terrestre orbitava ao redor do Sol e mencionando o que chamaríamos mais tarde de “lei da gravidade”.

Estudos do tipo continuaram a ser produzidos em plena Idade Média, mas o geocentrismo de Aristóteles e Ptolomeu perdurou, graças à Igreja Católica, como forma mais aceita de entender o movimento do planeta.

Foi preciso esperar até o século XVI para que o heliocentrismo alcançasse o status de teoria científica, e devemos esse avanço não a Galileu, mas ao médico e astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543). Suas pesquisas resultaram na obra Das revoluções das esferas celestes, concluída em 1530 e publicada em 1543, na cidade de Nuremberg, pouco antes da sua morte.


Olivier Tosseri é jornalista

Fonte:História Viva