terça-feira, 25 de setembro de 2012

Encontro de História e Cultura dos Povos Indígenas e Afrodescendentes



09 a 11 de outubro de 2012.

Resumos para apresentação em simpósio temático devem ser encaminhados para revista_historien@ig.com.br até dia 26/09.


Os trabalhos completos devem ser encaminhados até o dia 26/10, também para o email acima, e serão publicados na edição 7 da Revista Historien. 



Informaçoes sobre minicursos,horarios , mesas redondas entre outras ,consultar o presente Blogger.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Programação do Encontro de História e Cultura dos Povos Indígenas e Afrodescendentes


O encontro será promovido pelo Departamento de História da  Universidade de Pernambuco - Campus Petrolina e acontecerá de 09 a 11 de outubro.
CERIMÔNIA DE ABERTURA E ATRAÇÃO CULTURAL
16 h 30 às 18 h 30 - MESA 1: Culturas indígenas e ensino de História
Ms. Patrícia Navarro (09/10 – TERÇA-FEIRA
15 h15 – UEFS) – Antropologia dos povos indígenas
Ms. Zeneide rios (UEFS) – Povos Indígenas e ensino de História
Ms. João Luís da Silva (IF-Sertão) - Povos indígenas e Educação no Sertão Pernambucano
19 h 30 às 21 h 30 - MESA 2: POLÍTICAS AFIRMATIVAS E COTAS RACIAIS
Ms. Harley Abrantes (UPE)
Drº. Nilton Araújo – (UNIVASF)
Drº. Cláudio de Almeida - (UNIVASF)
10/10- QUARTA-FEIRA
15 h 30 às 16 h 15 – MESA 3: CULTURAS, RAÍZES, LUTAS E HISTÓRIAS
– Jorge Rodrigues Barbosa - Babalorixá e Bacharel em Segurança de Trabalho– Presidente da AECAB e liderança do Terreiro Ylê Asé Opô Oycidê , Petrolina, PE
- Rafael - Liderança jovem do povo Truká.
16 h 15 às 18  h 15 – MESA 4: COMUNIDADES QUILOMBOLAS: OLHARES E DEBATES
Drº. Alberto Banal (Universidade de Milão)
Drª.  Carmélia Miranda (UNEB)
Givânia Conceição - INCRA
19 às 22 h
v  MINICURSOS:
·         Ms.Herlon Alves Bezerra (IF-Sertão) – Interculturalidade Crítica
·         Ms.Tatiane Bernardon (IF-Sertão) – Doença, Saúde E População Afrodescendente
·         Ms. Patrícia Navarro (UEFS) – Antropologia dos povos Indígenas: Cultura e diversidade dos índios no Brasil
·         Drº. Mário Sá (UFGD) - "Umbanda: essa marginália sagrada".
v  SIMPÓSIO TEMÁTICO: História e Cultura dos Povos Indígenas e Afrodescendentes
v  OFICINAS:
  • Abayomi, uma boneca de pano negra como possibilidade didática
Camila Alves Correia e Maria do Socorro Fonseca
  • Dança Afro
Ioná Ribeiro
  • Projetos fotográficos e comunidades Quilombolas
Alberto Banal e Marco Antônio Tessaroto
 11/10- QUINTA-FEIRA
15 h 30 às 17 h  - MESA 5: POVOS INDÍGENAS, AFRODESCENDENTES E AS PESQUISAS LOCAIS
Ms. Clécia Simone Gonçalves Rosa (IF-Sertão): “Educação Contextualizada no Espaço Semiárido”
Drª. Ivete Aparecida da Silva Ota (UPE e IF-Sertão): “A negritude em perspectiva discursiva”
Esp. Edivania Granja da Silva Oliveira (IF-Sertão): “Educação das Relações Étnico-Raciais e Comunidades Tradicionais”
17 às 18 h: Lançamento de livros
19 h 30 às 21 h 30 - MESA 6: RELIGIOSIDADES AFRODESCENDENTES
Dr. Mário Teixeira Sá (UFGD): "Os Discursos de Controle Sobre as Práticas Religiosas Afro-Brasileiras (1889-1950)"
Drª. Elizete da Silva (UEFS): "Relações entre protestantes e adeptos dos cultos de matrizes africanas no Brasil"
Ms. Paula Galrão (UNIVASF): "Aprender Religião em Contextos de Pluralismo e Trânsito Religioso"

terça-feira, 11 de setembro de 2012

DOM JOSÉ RODRIGUES: MEMÓRIAS DE UMA REFERÊNCIA PESSOAL QUE SERÁ ETERNA

Por Moisés Almeida¹


Na década de 1980 conheci“um pequeno GRANDE HOMEM” José Rodrigues de Souza, Bispo da Diocese de Juazeiro-BA. Na época eu trabalhava na Emissora Rural a Voz do São Francisco como operador de áudio. Aquele pequeno homem de cigarro na mão andava pelos corredores da Rádio um pouco antes das dezoito horas, às sextas feiras. Chegava sempre de fusca acompanhado de Paulo Bispo para apresentar seu programa “Semeando a Verdade”. Aproveitava aqueles momentos para reler um texto datilografado, produzido especialmente para sua fala durante o programa. Quase sempre fazia um relato de suas viagens pastorais e aproveitava datas santificadas, comemorativas, cívicas para dar uma “aula de História”. Através desses programas me inteirei de três fatos envolvendo manifestações populares: Contestado, Canudos e Pau-de-Colher. Hoje esses eventos são parte de minhas linhas de investigação.

Em 1990 fui convidado à apresentar um programa radiofônico (A Voz do Velho Chico) em conjunto entre a Pastoral Rural da Diocese de Petrolina e a Comissão Pastoral da Terra da Diocese de Juazeiro. Nessas idas e vindas entre esses dois lugares, estreitei meus laços com o lado baiano e fui me aproximando de Dom José. Em 1991, o então representante da CPT no programa radiofônico, o falecido Padre José Carlos me fez um convite para ser o coordenador do Setor de Comunicação Social daquela Diocese.  Prontamente aceitei o desafio e na metade daquele ano estava eu no setor de comunicação aprendendo junto a Dom Joséproduzir/montar o jornalzinho da Diocese “Caminhar Juntos”.  Outras aulas surgiram, especialmente de língua portuguesa, pois na correção do jornal -  todo escrito pelo bispo - aproveitava a oportunidade para me ensinar as regras gramaticais. Ele não ia dormir enquanto eu não diagramasse o jornal e às vezes ficava no Setor de Comunicação até perto de uma hora da manhã esperando o material para levar para sua casa, e,antes das seis deixava em cima da minha mesa para as correções finais. Quando o jornal ficava pronto, separava por paróquia e colocava nas caixinhas. Todo cuidado era pouco, pois tinha um zelo muito grande pela informação.

Eram duas paixões de Dom José Rodrigues: a informação e a leitura. Fui agraciado na sua paixão pela informação, pois foi neste Setor de Comunicaçãoque permaneci durante sete anos, sempre sendo apoiado por esse Pastor. Não tive nenhum projeto apresentado a ele que não fosse apoiado e grandes realizações conseguimos construir no tempo em que fiquei na Diocese: rede de comunicadores populares, integração das paróquias via fax, produção de jornal noticiário em rádio comercial, locadora de vídeos educativa, produtora de vídeos entre outros.
Admirava ver o gosto de Dom José pela Biblioteca Diocesana. Todas as manhãs, entrava na biblioteca, arrumava os livros, separava as sessões, atendia inclusive o público, quando a bibliotecária não conseguia encontrar os materiais solicitados. Assinava jornais e revistas e minuciosamente recolhidas informações relevantes para pesquisa e classificava-os em pastas. Quantas encadernações a biblioteca tinha, em função desse cuidado de Dom José!  Era aposentado e os recursos de sua aposentadoria foram empregados na compra de livros.
Quando chegava uma visita, dois lugares eram certos para que ele pudesse mostrar: a biblioteca e o setor de Comunicação. Nesse último, recebemos a visita de Cardeais e até mesmo do ex-presidente Lula para uma entrevista.
Era metódico e gostava muitas vezes de ficar sozinho em sua casa. Da janela do seu quarto olhava o movimento. Certa vez eu estava no setor de comunicação em final de semana (era folga de sua empregada D. Pedrina)e ele apareceu de repente com a camisa ensanguentada, rosto com alguns pontos; tomei um susto. Perguntei: o que houve Dom José? Ele me respondeu que o ônibus que vinha de Recife tinha descido uma ribanceira e ele tinha batido o rosto na cadeira. Veio solicitar minha ajuda para comprar os remédios que o médico passara. Rara oportunidade de contato solicitando apoio em dias que estava solitário.

Para receber visitas era necessário marcar com antecedência; atendia sempre o telefone pelo número. Tinha dias que não queria receber autoridades. Lembro-me de uma visita que Lula, então candidato a presidente da República fez a Juazeiro, numa viagem ecológica pelo Rio São Francisco; ele me informara que por conta das insinuações na imprensa que ele estava apoiando-o, não iria receber ninguém, iria deixar a campainha da casa desligada. Pela manhã encontrei Leonardo Boff (Importante teólogo e amigo do bispo) na porta da casa bispo batendo, sem ninguém atender. Eu disse Leonardo, o bispo hoje não vai receber ninguém. O ex-Frei deu meia volta e foi embora. No outro dia relatei o ocorrido, ele apenas ouviu e não me disse nada.
 Custou a ter um aparelho de TV em casa e a sua biblioteca particular era seu aposento. Quando fomos coordenar o setor de Comunicação realizamos um trabalho de aproximação de Dom José com a imprensa. Não foi uma tarefa fácil. Mas aos poucos, com a nossa contribuição,os repórteres conseguiam bater em sua casa e ser atendidos (marcando com antecedência, é claro). Não dava entrevista sem se preparar, pois primava pelo conteúdo e especialmente pelas justificativas da informação à luz da sagrada escritura.
Fez poucas visitas ad liminaao Papa e certa vez me contou que em Roma, ao visitar João Paulo II, andandono corredor de uma sala do Vaticano, Joseph Ratzinger (Bento XVI)na época prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, esperando-o com uma cartilha da Campanha da Fraternidade (A Diocese de Juazeiro preparava sua própria cartilha) indagou-o sobre as questões politicas no conteúdo daquele documento. Dom José mostrou ao Cardeal as várias indicações e leituras da Bíblia na Cartilha e disse: se essas referências da Bíblia são referências políticas, então a cartilha é política. O Cardeal se calou.

Viajei algumas vezes com ele, tomando o lugar de motorista. Se a vigem durasse duas ou três horas, não me deixava um só momento sem conversa. Era outro Dom José que no dia a dia mostrava-se fechado e calado, mas nas viagens e horas de lazer transformava-se num conversador implacável.
Seu destino foi traçado em Juazeiro com Nossa Senhora das Grotas,a quem tanto amava. Seu legado social, político, religioso não deve ser esquecido nunca. Partir um dia após as festividades do cinquentenário da Diocese, na festa de sua padroeira, seloude vez seu destino. Não teria momento melhor para seu encontro com o Pai. 
Tenho muito a falar desse Pastor, minha referência primeira. Posso dizer que parte da minha intelectualidade devo ao trabalho que desenvolvi na Diocese de Juazeiro ao lado de um Grande Homem. Aprendi que ser Cristão é ter preferência pelos pobres e excluídos; consegui fazer outras leituras da prática do catolicismo nas diversas pastorais sociais: da mulher marginalizada, da PJMP, da CPT, dos Pescadores e muitas outras. Encantei-me com a celebração eucarística encarnada, simples, sem aquela oficialidade vaticana.  Acreditei que o Evangelho pode e deve ser fonte de libertação dos pobres, oprimidos, marginalizados. Continuo ainda perseguindo esse ensinamento, mesmo tendo parte da Igreja Católica se afastado dessa referência. Minha vida mudou, meus projetos de vida foram modificados. Dom José Rodrigues, sua prática, sua luta, sua simplicidade e seu testemunho me fizeram entender que a vida tem um sentido cristão.“Deus não escolheu os pobres porque com eles é mais fácil trabalhar. Muito pelo contrário, é mais difícil. Ele não os escolheu para que os opressores lhes façam caridade e lhes dêem esmolas. Pelo contrário. Do opressor Deus não exige esmolas e sim justiça. [...] Nos pobres existem as sementes e a fonte do futuro da humanidade. Pela força do amor divino, esta semente brotou a terra, começou a crescer, formou um caule e deu uma flor, transformou-se em espinho e deu como fruto a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Até hoje esta mesma semente brota neste mundo, onde quer que os oprimidos, animados pela sua fé em Deus, nos homens e na vida, ofereçam resistência contra a opressão e a morte, sem deixar-se corromper pela mentalidade dos seus opressores”. (DOM JOSÉ RODRIGUES apud PATER, 1996, p. 54-55).  Devo e agradeço por ter convivido realmente com uma PESSOA DE CRISTO. Que vá em paz e que sua memória seja eterna. Muito grato!


 ¹Professor Assistente da Universidade de Pernambuco e Autarquia Educacional do Vale do São Francisco.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Nem as Margens Ouviram


“Independência ou Morte!” Consagrado pela História, o Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, quase não causou repercussão entre seus contemporâneos. Na imprensa do Rio de Janeiro, somente o número de 20 de setembro do jornal O Espelho exaltou “o grito acorde de todos os brasileiros”. Na prática, a Independência estava longe de chegar.


Três séculos depois do descobrimento, o Brasil não passava de cinco regiões distintas, que compartilhavam a mesma língua, a mesma religião e, sobretudo, a aversão ou o desprezo pelos naturais do reino, como definiu o historiador Capistrano de Abreu. Em 1808, os ventos começaram a mudar. A vinda da Corte e a presença inédita de um soberano em terras americanas motivaram novas esperanças entre a elite intelectual luso-brasileira. Àquela altura, ninguém vislumbrava a ideia de uma separação, mas esperava-se ao menos que a metrópole deixasse de ser tão centralizadora em suas políticas. Vã ilusão: o império instalado no Rio de Janeiro simplesmente copiou as principais estruturas administrativas de Portugal, o que contribuiu para reforçar o lugar central da metrópole, agora na América, não só em relação às demais capitanias do Brasil, mas até ao próprio território europeu.


O auge do questionamento das práticas do Antigo Regime aconteceu em 24 de agosto de 1820, quando estourou a Revolução Liberal do Porto. Clamava-se por uma Constituição baseada nas liberdades e direitos do liberalismo nascente. A revolução teve importante eco no Brasil, por meio de uma espantosa quantidade de jornais e folhetos políticos. Durante todo o ano de 1821, porém, não surgiu nesses impressos qualquer proposta favorável à emancipação.
Até o início de 1822, ninguém falava de Brasil. Ao partir para as Cortes de Lisboa, para a discussão da Constituição do Reino, os deputados americanos pensavam apenas em suas “pátrias locais”, ou seja, em suas províncias. Só os paulistas demonstraram alguma preocupação em construir uma proposta para o conjunto da América portuguesa. Nem por isso abriam mão da integridade do Reino Unido: sugeriam o Brasil como sede da monarquia, ou então a alternância da residência do rei entre um lado e outro do Atlântico. “Independência” significava, antes de mais nada, autonomia.


Ao longo daquele ano, porém, o discurso se radicalizou. A insatisfação com a metrópole crescia, pois das Cortes vinham propostas para retomar algumas das antigas restrições políticas e econômicas que tinham limitado a autonomia do Brasil no passado. Junto com o projeto constitucionalista surgia a ideia separatista, embora ainda não direcionada a toda a América portuguesa.


Considerada na época como a data que oficializou a separação do Brasil de sua antiga metrópole, a aclamação de Pedro I como imperador, em 12 de outubro de 1822, não significou a unidade política do novo Império. A proposta foi aceita pelas Câmaras Municipais de Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Pernambuco titubeou durante algum tempo. Por causa das dificuldades de comunicação, Goiás e Mato Grosso só prestaram juramento de fidelidade ao Império em janeiro de 1823. Enquanto isso, Pará, Maranhão, Piauí e Ceará, além de parte da Bahia e da província Cisplatina, permaneceram leais a Portugal, refratárias ao governo do Rio de Janeiro. Foram tempos de guerra. No início de 1823, enquanto várias províncias já escolhiam seus deputados para a Assembleia Legislativa e Constituinte do Rio de Janeiro, o Maranhão elegia deputados para as Cortes ordinárias de Portugal.


Enfim, apesar dos horrores da guerra e das tensões que não desapareceram, esboçou-se pela força a unidade territorial do Brasil. Mas o rompimento total e definitivo mantinha-se sub judice. Afinal, o imperador era português e sucessor do trono dos Bragança. Capaz, portanto, de reunir novamente, após a morte do pai, os dois territórios que o Atlântico separava.


Somente em 1825, depois de demoradas negociações, D. João VI reconheceu a Independência, em troca de indenizações. Mesmo assim, o gesto veio sob a forma de concessão, transferindo a soberania do reino português, que ele detinha, para o reino do Brasil, sob a autoridade de seu filho. E D. João foi além: reservou para si o título de imperador do novo país, registrado nos documentos que assinou até sua morte, em 1826.


Os laços de sangue faziam da Independência um processo ambíguo e parcial. Foi preciso esperar outra data, a da abdicação de D. Pedro I, em 7 de abril de 1831, para que se rompesse definitivamente qualquer vínculo do Brasil com Portugal. Assumia o poder um soberano-menino, também ele um Bragança, mas nascido e criado no Brasil. No linguajar dos exaltados do período regencial, acabava-se “a farsa da independência Ipiranga”.


Lucia Bastos Pereira das Neves é professora titular de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e autora de Corcundas e constitucionais: a cultura política da Independência (1808-1822) (Revan, 2003).