domingo, 13 de março de 2011

O Brilho da Morte


Com os problemas nas usinas nucleares no Japão, afetadas pelo terremoto da última semana, e com sérios riscos de uma contaminação a região no entorno das mesmas, é lembrado do grande acidente que ocorreu com a usina nuclear de Chernobyl. No Brasil ocorreu também um grave desastre radioativo, no caso a cidade afetada foi Goiânia, em 1987, sendo este considerado um dos maiores desastres deste tipo na história.

Em 13 de setembro de 1987, dois catadores de lixo de Goiânia deram início ao que seria o segundo maior acidente radioativo do mundo, atrás apenas de Chernobyl, na Ucrânia, Ao arrombarem um aparelho radiológico, encontrado nos escombros de um antigo hospital, expuseram o césio 137, pó branco que emitia um estranho brilho azul quando colocado no escuro. Considerado sobrenatural, o elemento radioativo criado em laboratório passou de mão em mão, contaminando o solo, o ar e centenas de moradores da capital goiana.

Foram necessários 16 dias para perceberem que a substância estava deixando um monte de pessoas doentes. Durante esse tempo, a contaminação só se espalhava. Após o desastre, os trabalhos de descontaminação produziram 13,4 toneladas de lixo radioativo entre roupas, plantas, animais, restos de solo e materiais de construção. Tudo isso foi armazenado em cerca de 1200 caixas, 1900 tambores e 14 contêineres, guardados em um depósito construído na cidade de Abadia de Goiânia, a 24 quilômetros da capital – e lá deve ficar por pelo menos 180 anos.

‘O brilho da morte’, como o césio foi chamado por Devair Alves Ferreira, primeira pessoa a entrar em contato direto com o elemento, fez centenas de vítimas. Quatro morreram cerca de um mês após a exposição. Entre elas, uma criança de 6 anos, Leide das Neves, considerada a maior fonte humana radioativa do mundo”.

O Longo trajeto da luz azul – Em 1987, o césio 137 fez centenas de vítimas durante os 16 dias em que percorreu Goiânia

Dia - 13/09: Os catadores de lixo Roberto dos Santos e Wagner Mota removem partes de um aparelho usado no tratamento de câncer das antigas dependências do Instituto Goiano de Radioterapia. O objetivo era vender o metal do equipamento para um ferro-velho. Arrombaram a máquina e deram início à contaminação

Dia - 18/09: Devair Ferreira, dono de um ferro-velho perto do hospital desativado, compra a peça, no mesmo dia ele arromba a máquina e entra em contato com 19,26 gramas de césio 137. Ele descobre que a substância, em ambientes escuros, emite uma luz azulada. Encantado, acredita estar diante de algo sobrenatural e leva o pó para casa.

Dia - 19 até 21/09: Devair recebe a visita de parentes, vizinhos e amigos interessados em ver a misteriosa luz azul. Todos começam a apresentar tonturas, náuseas, vômitos e diarréia – os primeiros sintomas da contaminação radioativa. No dia 19, seu irmão Ivo leva a substância para casa e ela é ingerida por sua filha de 6 anos, Leide das Neves.

Caixão em que foi enterrada Leide das Neves. O mesmo foi feito com chapas de chumbo
Dia - 26/09: Odesson Ferreira, outro irmão de Devair, entra em contato com substância. Motorista de ônibus, contamina centenas de passageiros. A frente de seu veiculo foi considerada uma alta fonte de contaminação e destruída como lixo radioativo. Enquanto isso, os hospitais entram em alerta com o número de doentes que apresentam os mesmos sintomas.

Dia - 29/09: Maria Gabriela, esposa de Devair, suspeita que o pó branco seja o responsável pelos sintomas e leva a cápsula de césio para a Vigilância Sanitária. O físico Walter Mendes é chamado e descobre tratar-se de uma substância radioativa. Ele chega a tempo de impedir que os bombeiros joguem a cápsula dentro do rio Meio Ponte, principal fonte de abastecimento da cidade.

Dia - 30/09: Os técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) chegam a Goiânia e, junto com a polícia militar, começam os trabalhos de descontaminação. Centenas de pessoas que apresentam os sintomas do contato com o césio são colocadas de quarentena num estádio, o Olímpico, onde passam por uma triagem para identificar o grau de contaminação.

Fonte: revista Aventuras na História, Edição nº49, setembro de 2007.


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