quarta-feira, 23 de novembro de 2011

História entre quatro paredes


Houve um tempo em que as mulheres brasileiras eram obrigadas a se enfear e os homens precisavam dormir de lado, nunca de costas, para evitar “a concentração de calor na região lombar”. Estes e outros casos íntimos estão agora reunidos pela historiadora Mary del Priore no livro “Histórias íntimas – sexualidade e erotismo na História do Brasil”, da editora Planeta, que mostra como o sexo se transformou de um assunto abolido para um tema perene na atual sociedade.A sexualidade e a noção de intimidade foram mudando ao longo do tempo seja por questões políticas, econômicas ou culturais. Mary, que dedicou 15 anos ao tema, narra as histórias com uma riqueza de detalhes capaz de fazer o leitor invadir a intimidade de casais de cinco séculos atrás, abordando temas como nudez e pudor, hábitos de higiene, afrodisíacos, crendices, homossexualidade e prostituição, além do surgimento da lingerie e do biquíni, de remédios caseiros para aborto até os bailes de carnaval e, enfim, a revolução sexual. “Se antes o sexo era proibido, hoje ele é obrigatório. Atualmente gozar tornou-se praticamente um dever das pessoas”, conta.

Exemplo de cimaEnquanto nos séculos XVII e XVIII a mulher era vista como venenosa, traiçoeira e ninho dos pecados sob a Terra – visão propagada pela Igreja –, no século XIX o adultério passou a ser um assunto debatido. Graças, em parte, aos exemplos que vinham de cima – ou seja, da família real e, mais precisamente, do imperador Dom Pedro I. Entre os “súditos”, “fazia-se amor com a esposa quando se queria descendência; o resto do tempo era com a outra”.A “descoberta” do corpo feminino, no século XX, se deu, segundo Mary, em grande parte ao incentivo aos exercícios físicos, o trabalho nas ruas e a aceleração das cidades, fazendo com elas passassem a se expor publicamente. Uma das curiosidades é que a pílula anticoncepcional chegou a ser vista como instrumento norte-americano para conter o povoamento das nações latinas. Passo a passo das relações sexuaisO livro traz ainda um documento inédito da coleção Rio Nu, considerada a primeira revista masculina publicada no Brasil – que chegava até a ensinar recém-casados a ter relações sexuais. Para a autora, a descoberta compôs a tríade necessária para compor um bom livro de História: que seja instrutivo, divertido e traga alguma novidade.“Essencialmente, o livro mostra as duas caras do Brasil. Uma coisa é o que nos mostramos em público, e outra completamente oposta é o cidadão na vida privada, com sentimentos machistas e homofóbicos que perduram há 500 anos. Na intimidade, estamos muito longe de sermos libertários”, argumenta Mary.

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