quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A questão do segredo no candomblé


As religiões afro-brasileiras são constituídas por grupos esotéricos que se pautam pelo conhecimento oral. Suas regras de acesso ou ingresso envolvem a realização de rituais privados, no interior dos terreiros. Por isso o segredo desempenha um papel fundamental no candomblé. Porém, se a oralidade no mundo dos terreiros tem sido a forma por excelência de transmissão de conhecimento, manutenção do axé (energia vital) e do segredo ritual, fora deste contexto ela vem se tornando cada vez menos legítima.Como dizem alguns estudiosos, a escrita tem sido uma das bases dos processos de educação, comunicação de massa e conversão religiosa. Já no contexto particular dos terreiros, ao contrário, a palavra escrita não tem a força do axé. É somente nos ritos que a palavra falada se associa ao canto, à reza, aos objetos, ao sacrifício etc. quando então sua força mítica é liberada. O segredo da força da palavra está na associação da frase que ela anuncia com a legitimidade de quem a profere. Nesta gramática religiosa, o significado depende de quem fala, o que fala, para quem fala e qual o contexto da interlocução.As formas assumidas pelas sistematizações (ou codificações escritas) no candomblé denunciam transformações significativas no modo pelo qual a religião tem sido praticada no interior dos terreiros, e pensada na confluência destes com o mundo que os envolve. A questão do segredo e sua revelação foi uma das mais importantes transformações verificadas no candomblé no momento em que se expandiu a prática nos grandes centros urbanos do Sudeste por volta dos anos de 1960. Livros e a internet participaram dessa divulgação, com, inclusive, cenas rituais publicas e privadas “postadas” em sites como o “You Tube”. Nesse caso, uma religião que privilegia a dança, o movimento, a cor, a música, a performance, certamente tem um grande potencial para aproveitar a seu favor os recursos disponíveis na web.

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