sábado, 22 de outubro de 2011

O Santo Ofício vai à escola

A História é considerada matéria chata e desinteressante para muitos alunos. Este pesadelo que atormenta os professores pode ser superado, ou, pelo menos, minimizado, com a utilização em sala de aula de fontes pouco exploradas. A documentação produzida pelo Tribunal do Santo Ofício da Inquisição relativa ao Brasil é um material valiosíssimo, com detalhes sobre o dia-a-dia da vida nas vilas e nos engenhos coloniais, sobre os acontecimentos políticos e seus principais personagens, as guerras de conquista e pacificação, a produção econômica de subsistência e de exportação. Aparecem também as disputas militares e as entradas pelo sertão em busca de metais ou de indígenas e negros fugidos, as festas religiosas e as cerimônias fúnebres, as questões de fé e o sem-número de heresias praticadas, além dos registros sobre a catequização dos nativos e escravos. Os representantes da Inquisição fizeram meticulosas descrições da vida na Colônia, e muitas vezes deixaram transparecer o seu espanto diante do que ocorria.

Apesar dos avanços nas pesquisas e da publicação de vários livros sobre o tema nos últimos anos, falar da Inquisição em sala de aula ainda causa surpresa. Os professores que utilizam este tipo de documentação constantemente se deparam com o assombro dos alunos ao descobrirem a presença do Tribunal do Santo Ofício e a existência de acusações e processos inquisitoriais envolvendo habitantes do Brasil colonial.

Perde o aluno, mas também o professor, ao deixar de lado fontes riquíssimas, que poderiam tornar mais atraente uma disciplina que ainda carrega a densa pecha de que mais se decora do que se aprende. Muito melhor seria usar estes documentos em sala de aula para incentivar o gosto pelo estudo do Brasil dos primeiros séculos.

A Inquisição surgiu no século XIII com o papa Gregório IX (1170-1241), que contou com o apoio das ordens Franciscana e Dominicana para combater os cátaros ou albingenses, difusores de doutrinas consideradas falsas pela Igreja [as heresias], atuantes na região de Albi, sul da França. Após a perseguição aos hereges e o extermínio de comunidades inteiras, o Tribunal foi extinto. Voltou a funcionar no início da Idade Moderna (século XV), quando a Igreja se viu novamente ameaçada pelo problema das heresias. O Tribunal exercia vigilância sobre a moral dos fiéis e censurava a produção cultural e científica, visando conter inovações contrárias ao dogma da Igreja. Caso os inquisidores julgassem que o réu não demonstrava arrependimento em relação ao crime de que era acusado ou fosse reincidente, ele poderia sofrer condenações as mais variadas, que iam desde a obrigação de fazer orações e penitências até ser entregue ao poder secular, que podia condená-lo a morrer na fogueira, em cerimônias públicas denominadas autos-de-fé. A península ibérica, envolvida com os problemas da reconquista do território ocupado pelos árabes e do monopólio da fé, foi um dos palcos para o ressurgimento da Inquisição.

FONTE: revistadehistoria

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